quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Exposição Fotográfica e uma pequena explanação sobre os rumos no IRIS

As boas novas: A exposição fotográfica "O Pulsar do Tempo: Um espectral teatro de reflexos" foi um sucesso! Em todas os âmbitos. Não só porque as fotos são de uma beleza irrefragável, mas também pelo poder de entusiasmar, estimular a união, a vontade de trabalhar e o amadurecimento do grupo, enquanto "Poético-Visual" e enquanto grupo de trabalho em si. Nosso primeiro contato com a experimentação - que é um dos objetivos primários do nosso grupo - foi altamente satisfatório, pois além de deixar claro que o grupo é forte, unido e altamente funcional, tivemos uma química maravilhosa de idéias e pontos de vista que, mesmo em alguns casos sendo bem divergentes, nos levam à discussão e acabam por nos mostrar novos rumos e algumas alternativas ainda não cogitadas. Também é necessário ressaltar que a mostra teve, em seu processo, um ar altamente feminino. Nessa cultura falocêntrica em que vivemos, pudemos vivenciar aquela que, talvez, seja a nossa primeira experiência "vaginocêntrica". A idéia de expormos as fotos numa "Caixa Preta", até então, vinha apenas fortalecer a idéia uterino-passiva do objeto, guardando, protegendo. Mas, a arte em si ganhou força nesse processo e se desprendeu de tal modo que, quando nos demos conta, qualquer atitude fálica já de nada valia, e quando adentrávamos na Caixa começávamos a ser modificados imediatamente, perdendo esse poder centralizador do falo e tornando-nos "o objeto", adentrando num universo de pluralidade, com o ar soturno intra-uterino que nos dá a imediata sensação de segurança e prazer e nos abre a mente a absorver essa complexidade, buscando nos arrancar, em forma de poesia, o óbvio. E os mais diversos devaneios se expõem nessa hora. Que maravilha! A falta de um líder, de um falo (não me canso de reiterar), nos ajudou a descentralizar, desafogar todo o trabalho e elaboração. Essa descentralização que o grupo demonstrou foi um dos pontos fortes desse trabalho, não só saindo do lugar comum, mas rompendo com o tal. A construção das idéias de forma coletivista ajudou a firmar o expressionismo que está intrínseco nas belíssimas fotografias, compostas pelo nosso ilustre colega (espero eu que agora muito mais que passageiro) Gilberto Carvalho. As formas de buscar uma realidade subjetiva foram surgindo, sem sombra (!) de dúvidas, à medida em que observávamos cada fotografia. Foram quase mil e trezentas belíssimas composições, e infelizmente tivemos que ser injusto com a maioria, de certa forma. Porém, as que escolhemos, foram as que estavam embebidas em simbolismo e que arrancaram de nós o ímpeto que nos levou até o ponto derradeiro. O resultado foi uma composição premiada com um terceiro lugar no 3º Salão de Extensão da UFPel, projetando-nos, enfim, para o nosso primeiro "lugar ao sol". Essa conquista é extremamente importante, pois trouxe visibilidade e crédito ao Laboratório, e nos deixou claro a capacidade de mudar que temos em mãos, com tão pouco. Podemos dizer, ainda, em âmbito mais pessoal, que grandes e possivelmente duradouros laços fraternos se firmaram nesse processo, levando-nos a crer que a evolução da qualidade e da representatividade do IRIS nos está às mãos. Agora, passado esse primeiro momento de euforia, voltemos à labuta. Não comecemos do zero, mas tomemos consciência dos nossos objetivos primários. Abramos as discussões às opiniões e idéias que remetem ao poder transformador e incisivo que nos foi proposto a usar nas comunidades periféricas da região central da cidade, idéia essa que nos moveu num primeiro momento. Busquemos abrir mão de ideologias gerais em primeiro plano e comecemos a construção da Ideologia IRIS, tendo sempre em mente as potencialidades da diversidade acadêmica dentro do nosso grupo, e o poder de metamorfosear que É a chave-mestra da proposta de unirmos gente de tão diferenciadas áreas do conhecimento. Não esqueçamos nunca do teor de experimentação do Laboratório. Cuidemos a questão estética da Poética Visual, sem nunca esquecermos nossa posição ante a comunidade, acadêmica ou não. E ressaltemos ainda que as portas estarão sempre abertas aos colaboradores que busquem, investiguem, proponham, discutam e potencializem os trabalhos do IRIS. Derrubemos esse discurso falocêntrico então, e comecemos a construção do discurso vaginocêntrico que visa tornar esse texto, cheio de concepções fálicas, menos paradoxal! A todos, o nosso esbravejar eufêmico de "Conseguimos!"!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

"...En las noches como ésta la tuve entre mis brazos. La besé tantas veces bajo el cielo infinito. Ella me quiso, a veces yo también la quería. Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos. "
P.Neruda

sexta-feira, 16 de maio de 2008

processo da mostra

Um olhar que olha o outro que vê...
Imagens, trazidas pelo Gilberto e suas fotos, conversadas, vistas, refletidas...
Conversadas, vistas, refletidas...
O espaço...
Conversado, limpo, ganhando formas...
Já não é preciso olhar para ver, não é preciso falar para entender...
Unidade, aceitação, iniciativa...
Alegria de estar...
ReunIRIS
Noite de chorinho no Liberdade... Tem lugar melhor?
Liberdade...
Através das vidas escondidas nas fotografias fizemos nosso caminho...
Reconstruímos, dando forma circular e feminina...
E também nos vimos, nos olhamos, trocamos...
E, para quem acredita sem pedir certeza, é um começo...
O primeiro passo, uma viagem através das íris de todos nós...
E o melhor? O melhor sempre está por vir...
(mm)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Duelos de um espadachim Honoris Contra o Doido varrido

Afinal o que é um doutorado? Eu como poeta que sou doido e varrido, não sei o que seria um doutorado. Existe por fim doutorado em poesia? Para se historiar é preciso ter um doutorado! Mas para se fazer poesia é preciso mais que um doutorado. Há de se ter o doutorado do lápis, fiel escudeiro nas horas derradeiras. Há também de se ter o doutorado do papel, branco, amarelado, grilado, com suas nuanças chamativas e sua eterna voz de adormecido. Tem outro doutorado ainda: o doutorado do silêncio, sem ele nada se faz! Então meu derradeiro historiador, quem é mais cientista, és tu ou sou eu? Quem, em longínquos pagos, viaja sem cela nem cavalo, retornando vez que outra a campos neutrais do verdadeiro humanismo? Sou eu! O varrido poeta! Então, fugaz historiador, títulos para nada servem! Podes parecer feliz, mas a angústia plena de incertezas sempre te cai à fronte. Eu, poeta doido que sou, tenho o ar cheio de pulmões a soprar, tenho incertezas bem resolvidas, tenho feridas e humanidades expostas em carne viva! Afinal, nunca um fim, quem é o cientista desta maledeta vida? És tu, honrado Doutor? Ou sou eu, o Doido varrido? Por Miss Dalloway

Tome-me...

"Tome-me de assaltoTudo verte em meu olhar para o espelho d'um outro olhar que alcance minha fragilidade mais escondida. E me tome nos braços e me deixe calada e entorpecida Imóvel e incapaz de sair. Quero alguém que vede todas as rotas de fuga que criei para evadir de mim. O negócio, moço, é invadir minha vida de repente e me deixar, assustada, assistir."
Bjokas Ju Lund

terça-feira, 6 de maio de 2008

Meus devaneios...

Assim é feito o caminho....de princípio, meio e fim.E por mais que se tente controlar, todo inicio é apressado, incerto e até impulsionador.No principio tudo é extremado, exagerado e muito bom ou muito ruim.Por mais que se tente entender, todo o meio é complexo, cheio de variantes que oscilam entre o ótimo, o terrível ou o quase assim.As coisas se confundem entre pensamentos e atitudes, entre pessoas e gestos.E por mais que não se aceite, o fim vem logo após do meio e junto dele chega o medo.No final tudo se mistura, todo trajeto retorna, desde a pressa do inicio até as pessoas e os gestos do meio; que acabam com um destino de levar o que há para um lugar que não existe.Assim é o caminho...irônico, talvez.Coerente ou não, capaz e incapaz de transformar realidade em sonho ou sonho em realidade.E por mais que se tente desmentir, cabe ao viajante (e somente a ele!) decidir se começa a trajetória ou não.E por sua vez, se decidir caminhar cabe a ele o destino do final.
(ju lund)

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Alvaro de Campos (Fernando Pessoa)

"E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta, porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta. E nada que se pareça com isto deveria ser o sentido da vida"

sugestão título para a mostra do IRIS

O PULSAR DO TEMPO
um espectral teatro de reflexos
Pelo caminho poético proposto pela Maria e pelo O.Paz.. e seguindo...o nosso caminho... uma proposta de título para a mostra do Iris... O que acham...

Irmandade

Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite. Mas olho para cima: as estrelas escrevem. Sem entender compreendo: Também sou escritura e neste mesmo instante alguém me soletra. (OP)

Um despertar

Um despertar
Estava emparedado dentro de um sonho,
Seus muros não tinham consistência
Nem peso: seu vazio era seu peso.
Os muros eram horas e as horas
Fixo e acumulado pesar.
O tempo dessas horas não era tempo.
Saltei por uma fenda: às quatro
Deste mundo. O quarto era meu quarto
E em cada coisa estava meu fantasma.
Eu não estava. Olhei pela janela:
Sob a luz elétrica nem uma viva alma.
Reflexos na vela, neve suja,
Casas e carros adormecidos, a insônia
De uma lâmpada, o carvalho que fala solitário,
O vento e suas navalhas, a escritura
Das constelações, ilegíveis.
Em si mesmas as coisas se abismavam
E meus olhos de carne as viam
Oprimidas de estar, realidades
Despojadas de seus nomes. Meus dois olhos
Eram almas penadas pelo mundo.
Na rua vazia a presença
Passava sem passar, desvanecida
Em suas formas, fixa em suas mudanças,
E em volta casas, carvalhos, neve, tempo.
Vida e morte fluíam confundidas.
Olhar desabitado, a presença
Com os olhos de nada me fitava:
Véu de reflexos sobre precipícios.
Olhei para dentro: o quarto era meu quarto
E eu não estava.
A ele nada falta
- sempre fiel a si, jamais o mesmo
-ainda que nós já não estejamos... Fora
contudo indecisas, claridades:
a Alba entre confusos telhados.
E as constelações que se apagavam.
(Octavio Paz)

entre partir e ficar

Entre partir e ficar
Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.
A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.
Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.
Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.
Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.
A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.
No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.
Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa (Octavio Paz, trad. Antonio Moura)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Recomendação de leitura do primeiro reunIRIS

O ANU Uma noite lá na roça, quando eu tocava a viola, assim meio amuado, umas moda bem das antiga, e já quase que tirava uns cochilo, escuitei o que aparentava o barulho de arguém que batia lá na minha porteira, mais nada. Ah, que alembro disso demais, sô! Era na geada de maio e a fogueira tava quase no fim. O fumacê formava uma sombra esquisita... Acho que era pra mode esquecer aquela mardita, que hoje veve lá no céu. Essa que hoje tem o nome escrito nas contas do Rosário de Nossa Senhora, mas sempre alembrada aqui na terra. Ai, ai, chegava inté a tremer de arrepio. Cada quaresmeira roxa fazia pensar em assombração. Mas eu ía matutando com meus miolo: "Deve de ser argum conhecido batendo na porteira, arguém que veio fora de hora. Só isso, né mais nada não." E mais valente ainda, já sem um pingo de cisma ou de medo, "sinhô", eu gritei, "ô dona, ocês vai me adescurpá mas é que eu já ía dromindo quando ocês veio batendo toda vida na minha porteira que mal mal escuitei... Escancarei antonce a porteira e... Uai, nenhum'alma viva apareceu. Era só breu. Fiquei oiando aquela escuridão, foi me dando uns troço esquisito nos nervo... "Ah, sô, como eu gostava que toda noite fosse só noite de viola!" É, parecia até que eu tava meio alterado, cismando com coisa que nunca ninguém cismou... Mas o breu era medonho! Um sossego... Nem um pio... O único dizer que foi ouvido foi o dito do nome dela. Eu gritei o nome da falecida. E o eco repetiu, judiando de eu. Só isso, mais nada. Pra dentro antonce vortando, impressionado demais da conta, num demorou nadinha, escuitei o barulho tra vez: tum, tum... "De certo", eu falei, "essa confusão é na minha janela. Vamo ver que diacho que tem nela, e o que são esses sinal." Meu coração inté disparava, assuntando esses sinal. "Ah, é a ventania sô, tem mais nada não." Abri antonce a vidraça e ói, que cheio de rompante entrou todo prosa o Anu, que conheço né de hoje... Num disse um a, nem cumprimentou. Folgado, folgado, pousou no muro de lá de dentro de casa. Numa estauta de São Romão que tem em riba do muro de lá de dentro de casa Foi, pousou e nem tchum Num é que esse bichão esquisito inté aliviou minha aflição, com a soberba do seu jeitão... "Ô, ocê parece meio depenado, sô, mas é poda de rico, né, encomendada... Ó veio Anu retirante lá das terras de Exu! Conta de uma vez como é que chamam ocê lá nos quinto dos inferno!" Disse o Anu: "de jeito nenhum." Fiquei besta de ver esse bicho falar tão bem, inda que num formasse idéia da sua falação. Mas ocês há de concordar comigo, que nunca aconteceu de um filho de Deus topar com um bicho desses pousado em riba do muro de lá de dentro de sua casa; ave ou bicho desses na estauta de São Romão que tem em riba do muro de lá de dentro de sua casa chamado "de jeito nenhum". Mas o urubu em riba da estauta num conversou mais nada, cheio de soberba, só aquelas palavra, dum jeito mais doído do mundo. Ficou ali parado, nem tchum. E eu, com minha cachola, suletrei inda abestado: "amigo, sonho, tudo acaba, todo mundo já foi embora, sô. Amanhã ocê também vai." Disse o Anu: "de jeito nenhum" Creindeuspadre! O esprito tremeu todinho, pelo dizer tão bem rematado. "De certo", disse eu, "é esse seu costume de falar. Aprendeu com argum dono, que a desgraceira e o abandono perseguiram inté que o talo da alma ficasse bem ruim, e a toada de desespero da sua cantiga de ruindade era este refrão: de jeito nenhum." Mas fazendo inda a ave escura sorrir minha penura, sentei diante da bicha, da estauta de São Romão e do muro lá de dentro de casa; e agachado numa esteira, pensei de muita maneira: "que diacho queria esta ave agourenta dos tempos de Belzebu, essa ave preta e agourenta dos tempos de Belzebu, com aquele: de jeito nenhum"? Comigo isso cismando, mas sem poder dizer um a, pois o anu oiava pra mim que nem assombração... Isto e mais ía cismando, que a cabeça chegava a pongar na renda do sofá, onde o candieiro formava umas sombras esquisita... Naquele sofá onde ela no meio das sombra esquisita um dia ainda há de deitar... De jeito nenhum. Fez antonce um ar mais carregado, como cheio de mandinga dos terreiro de orixá, como as dança dos terreiro de orixá. "Mardito", disse pra eu memo, "Deus deu ocê, pela mão de todos os santos, a graça de esquecer. Isto foi de muita valia. Toma, esquece com seu sofrer o nome desta que ocê não esquece, e que é culpada do seu sofrer. Disse o anu: "de jeito nenhum." "Cigano", eu falei, "cigano - ou tinhoso, ou alma ruim - Fosse o demo ou a chuva braba que trouxe ocê pra minha porteira, Pra esse barraco, esse sossego, pra esse breu, esse arvoredo... Fala pra este esprito que ocê chamou! Se tem algum consolo pra este esprito que ocê chamou!" Disse o anu: "de jeito nenhum." "Malino", eu falei, "malino - ou tinhoso, ou alma ruim - Por Deus do céu, perto de quem eu e ocê num semo ninguém, fala pra esse coração apaixonado, se quando for dessa pra mior, vai poder ver aquela alma hoje guardada pelos braços da Santíssima e pela legião dos anjo do senhor!" Disse o anu: "de jeito nenhum." "Arre! Que esse berro separe a gente de vez! Eu falei procê ir embora, sô! Vorta às treva, à ventania! Vorta aos quinto dos inferno! Num deixa nenhum verso que possa alembrar a mentirada que ocê contou! Deixa eu ficar sozinho, sô! Vai embora da minha porteira! Desencosta do meu peito, tira a sombra do meu portão! Disse o anu: "de jeito nenhum." E o Anu na noite que num acaba nunca tá inté hoje, espia só, na estauta de São Romão que tem em riba do muro de lá de dentro de casa. Seus óio tem um sofrer medonho, de um demo que ainda tem sonho. E a lua fez o seu vurto feio no chão, que num acaba mais. E meu esprito desse vurto feio que tem no chão, e num acaba mais, vai livrar um dia, ah, se vai... De jeito nenhum! * http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/framepoe.htm