sexta-feira, 2 de maio de 2008

entre partir e ficar

Entre partir e ficar
Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.
A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.
Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.
Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.
Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.
A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.
No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.
Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa (Octavio Paz, trad. Antonio Moura)

2 comentários:

De disse...

UAU!!!!
Estou ainda no impacto ...
e seguindo por ele...pergunto...
se pelo OP...não encontrasses a chave poética da primeira mostra do IRIS...
pelo poema...por ti..anunciado...
pergunto...
será que não são essas as palavras...
possíveis de serem tomadas como título ou tema...
bricolando o poema...
quem sabe...
PULSAR DO TEMPO...um espectral teatro de reflexos...
e ainda...
sei lá pq... surgiu nesse meu agora... uma música...ou sugestão de fundo musical...para tudo aquilo que projetamos ontem juntos...
ouço assim ao fundo...daquilo que nos é tudo...
a música do mais profundo pensamento...
um coração batendo...
se é que isso pode fazer algum sentido...rs

Maria disse...

pois foi isso que senti, brotando do ser que vê, lendo o poema, saboreando as palavras e jogando no pulsar do tempo as perguntas para as improváveis respostas...
a surpresa...
o assombro...
a escrita que pulsa adentrando por meus olhos...
olho e vejo...
e nem preciso saber porq...